sábado, 19 de setembro de 2009

A Oficina de Pintura do Maria Pia:

A Oficina de Pintura do Asilo Maria Pia, tinha acabado de ser remodelada quando eu fui para lá.Quando eu digo remodelada, quero dizer que mudou de Instrutor. O anterior tinha falecido e colocaram uma pessoa para nos ensinar que trazia idéias novas, daqui, a remodelação. Era um homem novo, profissional da 'ferrugem' (assim chamávamos às pessoas que tinham profissões em que era preciso sujar as mãos), com técnicas novas e vontade de trabalhar e ensinar. Eu tinha sido 'corrido' da oficina de serralharia porque chegáram à conclusão de que eu não tinha vocação. Esta era a versão oficial. Mas a verdade é que eu só tinha vocação para coleccionar chaves. De todos os pedaços de ferro que encontrava eu fazia chaves. Quando correram comigo eu já abria qualquer porta dentro do asilo o que me facilitava muito a vida. Eu depois conto, mas agora voltemos à Oficina de Pintura. O nosso novo Instrutor acabou com as maneiras de pintar que já deviam ter mais de 200 anos. Exigiu materiais novos que dentro dos possíveis lhe foram entregues. Até aqui esta oficina apenas efectuava trabalhos de pintura em porta e janelas ou mudava os vidros partidos. Com os novos materiais e técnicas começámos a pintar carros e letreiros. Ele introduziu um curso de 'desenhador de letras'. Era mesmo assim que se chamava. Aprendíamos a desenhar qualquer tipo de letra e pintá-la no respectivo local. É claro que ainda não havia computadores. Tudo era feito à mão. Para se fazer uma letra levávamos horas. Mas com o tempo fomo-nos tornando bons naquilo. Tanto que trabalho não faltava. Até o autocarro da Casa Pia (o novo, não o calhambeque) foi por nós pintado com as repectivas letras a dizer Casa Pia. Era a nossa primeira grande obra por isso nunca a esqueci. A técnica que empregámos na pintura dos claustros também foi aqui aprendida. Mas o Instrutor era um filho do Estado Novo. Pobre como quase todos e por isso também aproveitava as oportunidades que a vida lhe facilitava. Ele morava no Porto Brandão, do outro lado do Tejo e lembro-me que uma vez ele teve um trabalhão para que o asilo me deixasse ir um fim-de-semana a sua casa. Inventou umas tretas como desculpa e como todos precisavam uns dos outros lá acabaram por me deixar ir. É claro que foi um fim-de-semana bem trabalhoso para mim visto que a intenção era pintar toda a cozinha da sua casa e como precisava de ajuda eu era a ajuda ideal e barata. A única recompensa foi a comida que me deu enquanto lá estive e da terra não vi nada a não ser a estrada que nos levava ao cacilheiro. Esta oficina também não me servia, eu detestava e ainda detesto andar sujo. Teria que mudar de ares mas isso ainda demoraria mais uns anitos.

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