terça-feira, 22 de setembro de 2009

A Gripe Asiática na Casa Pia:

A pandemia da Gripe Asiática iniciou-se em Fevereiro de 1957, no norte da China, tendo o primeiro isolamento do vírus sido feito em Pequim. Da China, a epidemia passou, em meados de Abril, a Hong Kong e Singapura, de onde se difundiu para a Índia e Austrália. Durante os meses de Maio e Junho, o vírus
dissemina-se por todo o Oriente. Em Julho e Agosto, estende-se a África, atingindo a Europa nos meses seguintes e os EUA entre Outubro e Novembro. O vírus atinge assim a população mundial em menos de 10 meses.
A rápida difusão da pandemia deveu-se a dois factores:a rapidez dos transportes e o aumento das viagens internacionais;
o vírus sofre a mais importante variação antigénica,
O novo subtipo H2N2 não apresenta nenhuma semelhança com o subtipo anterior H1N1, devido a variações antigénicas nos dois antigénios de superfície.
A nível mundial, a morbilidade associada a esta pandemia foi muito elevada, calculando-se que afectou 20 a 80% da população, consoante as áreas.
A Organização Mundial de Saúde só tomou conhecimento de um surto grave na China, Hong Kong e Singapura em Maio de 1957. O Centro Mundial da Gripe passou a fornecer as características dos vírus que iam sendo isolados, o que permitiu ao Centro Nacional da Gripe português tomar as medidas necessárias para a identificação precoce da entrada do vírus no país.
A epidemia de 1957 entrou em Portugal por via marítima, através dos passageiros do navio Moçambique, vindo de portos africanos, onde grassava a gripe. Embora os tripulantes tivessem desembarcado no dia 7 de Agosto em Lisboa, foi em fins de Setembro que a doença adquiriu carácter epidémico, atingindo o seu máximo em Outubro.
Como nós estávamos fechados dentro do asilo não sabíamos o que se passava cá fora mas não nos passou despercebida a situação porque creio que mais de metade dos alunos baixaram à enfermaria. Eu nunca tinha visto tanta gente doente. Por incrivel que pareça não me lembro de grandes mudanças nas nossas actividades. Tudo continuou a rolar normalmente. A diferença é que íamos para o refeitório e estava meio vazio, nas aulas ou nas oficinas era o mesmo e até o recreio não tinha a algazarra do costume. Em termos de prevenção nada se fazia e nada nos deram para tomar. Ou não havia ou simplesmente os médicos não sabiam o que fazer o que eu não acredito muito. Nas enfermarias, aqueles que estavam doentes eram bem tratados e depressa se curaram. Lá porque era não sei, o que sei é que de maneira nenhuma se podia apontar fosse o que fosse aos médicos e enfermeiros. Creio até que o próprio Governo se saíu muito bem da situação. Naquele tempo havia ordem e disciplina o que ajudava muito. É certo que havia repressão, cencura, medo e muitas coisas mais mas, estas coisas sentem-se, embora não se pudessem dizer. Mas não me lembro do tal 'clima' de desconfiança em relação à situação vivida durante a pandemia. É claro que eu tinha a minha opinião e esta tinha a ver com o facto das pessoas, naquele tempo, serem muito ignorantes e ainda muito mais temerosas da igreja. Os lamentos íam sempre para os céus e nunca para a incompetência dos mortais. Como não se podia protestar contra o céu e muito menos contra os terrenos era mais fácil suspirar e dizer: "Que raio de sorte a nossa". Assim não se culpava ninguém. Eu fui dos poucos que escaparam e costumo dizer que se não morri daquela não morro doutra. Viver no meio de tantos infectados, tanto mais que nem sequer nos mandavam lavar as mãos, era realmente um milagre escapar. Felizmente não me lembro de ter morrido alguém dentro do asilo. Mas só em Lisboa parece que as mortes chegaram aos 288. Os tratamentos eram feitos com a vacina nacional 'Imunadol', antigripais e supositórios, utilizando-se, nos casos mais difíceis, a penicilina e promicina. A duração da doença é de 5 a 9 dias. Mantêm-se os liceus fechados. A situação era grave em Portugal mas não era melhor na Europa. Mas passou. Na vida tudo passa.

Sem comentários:

Enviar um comentário