sábado, 22 de agosto de 2009

O 28 de Maio na Casa Pia:

Marechal Gomes da Costa
A Revolução de 28 de Maio de 1926, Golpe de 28 de Maio de 1926 ou Movimento do 28 de Maio, também conhecido pelos seus herdeiros do Estado Novo por Revolução Nacional, foi um pronunciamento militar de cariz nacionalista e antiparlamentar que pôs termo à Primeira República Portuguesa, levando à implantação da auto-denominada Ditadura Nacional, depois transformada, após a aprovação da Constituição de 1933, em Estado Novo, regime que se manteve no poder em Portugal até à Revolução dos Cravos de 25 de Abril de 1974. A revolução começou em Braga, comandada pelo general Gomes da Costa, sendo seguida de imediato em outras cidades como Porto, Lisboa, Évora, Coimbra e Santarém. Consumado o triunfo do movimento, a 6 de Junho de 1926, na Avenida da Liberdade, em Lisboa, Gomes da Costa desfila à frente de 15 mil homens, sendo aclamado pelo povo da capital.
Todos os anos, esta era uma data de grande turbulência. Estavamos em pleno Estado Novo e por conseguinte a data era vivida de diferentes maneiras. Só havia duas maneiras. Ou se era a favor ou se era contra. É claro que nós na Casa Pia não entendiamos nada de nada. Ninguém tinha formação politica, nem mesmo o povo, quanto mais nós. Mas nós tinhamos a irreverência da idade. Nesta idade somos sempre do contra. Era o que nós fazíamos. Saltavamos o muro, e íamos para a Avenida da Liberdade. Era ali que tudo acontecia e nós não podiamos perder a festa. A festa era sempre a mesma, a polícia a carregar sobre o povo. E o povo a fugir. De vez enquando alguém caía. Azar. Era apanhado. É claro que eu sendo ainda muito novo, os mais velhos não permitiam que eu saltasse o muro. Por uma razão muito simples e não era para me protegerem. Era simplesmente para não os estorvármos. Mas quando começei a ter idade lá fui com os outros. Corri e fugi como os outros e atirei pedras. Era o máximo que podiamos fazer contra a polícia armada até aos dentes e com canhões de água. Com a água dos canhões era preciso ter muito cuidado. Diziam-me que se eu fosse molhado a minha roupa ficaria brilhante e seria fácil a Pide dar comigo. Nunca tive a certeza se era verdade, porque era tudo tão rápido e moviamo-nos constantemente para evitar aglomerações, visto que naquele tempo mais de duas pessoas juntas era considerado perigoso. Todas as portas da Avenida eram fechadas por razões óbvias. Não havia para onde fugir. Só havia dois caminhos: Avenida acima e Avenida abaixo. Lembro-me que uma vez corria tanto que estava quase a ser apanhado e não tinha onde me esconder. Apareceu-me o gradeamento do portão do Parque Mayer pela frente e ainda hoje estou para saber como é que eu voei por cima dele. Mas safei-me.

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