domingo, 23 de agosto de 2009

A Morte de Carmona na Casa Pia:

O Marechal António Óscar de Fragoso Carmona exerceu o cargo de Presidente da República Portuguesa de 15/3/1928 a 18/4/1951.
Lembro-me perfeitamente que quando ele morreu a sua morte foi muito falada na Casa Pia. Todos os dias ele era mencionado por perceptores, professores e restante pessoal. Havia um clima de grande consternação é certo, mas também uma grande dúvida quanto ao futuro. O Presidente estava à tanto tempo no cargo que as pessoas já se tinham 'acomodado'. Agora vinha uma grande incerteza. E essa incerteza só acalmou 4 meses mais tarde quando foi eleito (ou devo dizer 'nomeado'?), para Presidente um homem da Aviação: O General Craveiro Lopes que eu tive o prazer de servir uma década depois. Mas esta situação de 'acalmia' era muito boa para nós, os alunos. Todos estavam apreensivos quanto ao seu futuro que nos deixaram um pouco em paz. A ignorância do povo era tal que todos pensavam que os seus 'tachos' estavam ameaçados. Todos tinham essa noção. E nós aproveitámos. Procurávamos tirar partido das situações que se apresentavam. Digamos que estávamos a cantar 'de galo'. Mas há sempre o reverso da medalha. Quando a situação estabilizou pagámos a triplicar toda a nossa ousadia. Passaram a ser mais frios os banhos de madrugada, menos comida, mais disciplina, menos horas de recreio, mais trabalho, algumas chibatadas. Sim, chibatadas. As chibatadas não eram permitidas mas também não estavam totalmente banidas. Havia sempre um perceptor que de vez em quando arranjava uma caninha-da-índia (que hoje chamam bambú) porque não partem com tanta facilidade e chegávam-nos a roupa ao pêlo e roupa, era coisa que tinhamos pouca. Lembro-me de um professor de desenho que tinha sempre na sala de aula uma vara com quatro metros. Sentado na sua secretária nunca se levantava porque chegava a todos com facilidade. Agora imaginem. Para nós, mudar de Presidente não nos trouxe nada de bom. A mudança só chegaria anos mais tarde e foi graças ao Dr. Salazar que a nossa vida melhorou. Depois conto, na devida altura.

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