quarta-feira, 29 de julho de 2009

Um Marmelo na Casa Pia:

O Marmelo sou eu. Pertenço à família dos Marmelos. Lá na terra o meu avô materno era conhecido por Marmelo. Não sei donde lhe veio a alcunha. O meu avô era ali dos lados de Fátima. Era um homem muito trabalhador, muito reservado e não sabia ler. Tinha um negócio, uma Padaria que ainda existe, uma horta enorme e ninguém o enganava. Trabalhava que se fartava. Lembro-me dele sempre a trabalhar. Costumava dizer que estivera presente no milagre de Fátima, em 1917. Lembro-me que contava os promenores com exactidão e vagareza. O que é que isto tem a ver com a Casa Pia? Eu explico! Certo dia houve um grande alvoroço lá no Asilo. Alguém tinha feito uma grande patifaria. Não me perguntem o que foi porque já não me lembro. Mas lá que deve ter sido grave, disso não tenho dúvidas porque o alvoroço foi tal que os padres (havia muitos padres na Casa Pia) resolveram fazer algo inédito. Levaram todas as crianças para a igreja. Estou a falar da Antiga Igreja da Visitação no Convento das Salésias que nós frequentavamos. Os padres armaram uma encenação. Disseram-nos que nos íam confessar a todos para saberem quem era o culpado. Prometeram não nos fazer mal nenhum e se o culpado se sentisse arrependido podia dizer. Claro que ninguém se acusou. Começaram então a confessar um a um. Quando chegou a minha vez, eu, que tinha um medo danado dos padres, disse que tinha sido eu. O padre deu-me um grande sorriso e gritou: Alto que já temos o Marmelo. Mal sabia ele que eu era realmente um Marmelo. Sempre fui ateu mas creio que foi aqui que começei a sê-lo. Gosto de entrar em igrejas para apreciar a arte que elas contêm. Nada mais. Sou doido por azulejos e a grande maioria deles estão nas igrejas. O gosto pelos azulejos também começou na Casa Pia porque ajudei a restaurar alguns, mais tarde, no Maria Pia. Depois conto.

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