quarta-feira, 29 de julho de 2009

A Adaptação à Casa Pia:

A adaptação ao asilo não foi muito difícil. O pior era a liberdade, ou melhor, a falta dela. Com os colegas, havia um problema: os mais velhos. Os mais velhos exercem sempre uma grande pressão sobre os mais novos. Creio que é assim em todo o lado. E durante todo o tempo que passei na Casa Pia sempre assim foi. Até que cheguei eu também a mais velho. Provavelmente devo ter feito a mesma pressão sobre os mais novos. Disso não tenho grandes recordações a não ser um caso muito especial. Talvez por ser o mais novato no asilo eu andava constantemente a ser alvo de chacota por um colega mais velho. Aturei aquilo durante muito tempo. Eu sou muito calmo e reservado. Mas não sei porquê, naquele dia, chegou-me a mostarda ao nariz. Não sei como, mas apliquei um valente murro mesmo na tromba do coitado. Foi remédio santo. Além de nunca mais me chatear ainda passei a ser visto como alguém que era preciso respeitar.
Mas adiante. Aqui neste asilo, parece que hoje lhe chamam Colégio mas para mim foi e será sempre um asilo, deram-me um número. Eu era apenas um número, como todos. Sempre soube o número de cor mas não o vou dizer. Aqui, muito poucos eram tratados pelo nome, quase toda a gente era o número tal e tal. Mas eu sempre fui conhecido pelo Valentim. Talvez porque naquele tempo e ainda hoje, não era um nome vulgar. E o tempo corria.

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