quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Natal na Casa Pia:

O relato que vou fazer passou-se no primeiro ano da minha estadia no Asilo Nun'Alvares, e era assim quase todos os anos. Penso que hoje já não deve ser assim. Normalmente por alturas do Natal a Casa Pia recebia muitas prendas para distribuir pelos seus alunos. Geralmente eram ofertas de grandes empresas daquele tempo ou então peditórios e angariações de pessoas que se fartavam de trabalhar para que nós, quase todos sem família, tivessemos um brinquedo, pelo menos nesta data. O que vou contar não cabe na cabeça de ninguém, mas acontecia, aqui, na Casa Pia. As prendas eram-nos distribuídas na véspera de Natal, como manda a tradição. Nós ficávamos muito felizes. Eu recordo-me que os únicos brinquedos que tive antes, eram apenas as caixas de medicamentos do meu pai que dizia ser um "pópó". Agora imaginem a alegria de ter um brinquedo de verdade. Já não me lembro o que é que me calhou mas lembro-me que já não o larguei mais. Até dormia com ele. E não era só eu. Ninguém nos contrariava nestas alturas porque era costume o asilo estar cheio de visitantes que gostavam de ver a nossa felicidadade. Porém, no dia 26, tudo voltava ao normal, as visitas saíam e nós ficávamos sózinhos. O Preceptor, era assim que chamávamos às pessoas que cuidavam de nós, mandava reunir todos os alunos, debaixo de um grande alpendre mesmo em frente ao pátio do recreio. Formavamos, normalmente, em filas de 3, como na tropa. Mandavam que todos colocassem os brinquedos no chão. Feito isto, mandavam avançar a primeira fila, depois a segunda e por último a terceira. Isto era feito sempre antes de uma refeição, porque era mais fácil. Nós ficávamos a pensar que eles não queriam que fossemos comer com os brinquedos e que nos davam depois da refeição. Quando terminava a refeição e era dada a ordem de dispersar todos corríamos em direcção ao alpendre, onde tinhamos deixado os brinquedos. Era a maior decepção das nossas vidas. Todos choravam baba e ranho por todos os lados.


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